Transpes avalia fazer incorporações

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Transpes avalia fazer incorporações

Transpes avalia fazer incorporações.

Operador mineiro se consolida em cargas pesadas e busca crescimento com ampla atuação no mercado nacional e internacional.

WAGNER OLIVEIRA

Com anos ininterruptos de cresci­mento, a mineira Transpes avalia possibili­dades de aquisições no mercado nacional e sul-americano. Sandro Gonzalez, pre­sidente da empresa com sede em Betim (região metropolitana de Belo Horizonte), afirmou que chegou a hora de buscar in­ternacionalização e pensar em opções que complementem e fortaleçam ainda mais a transportadora, que está quase chegando aos 50 anos de atividade.

Com origem e vocação no rodoviário, a Transpes vem diversificando suas aplica­ções nos últimos anos, se transformando em um dos mais conceituados operado­res de Minas Gerais. Após a especializa­ção no transporte de cargas superpesadas, também adquiriu reconhecimento em ser­viços de road survey, içamento e remoção industrial, DTM (desmontagem, transporte e montagem) e escolta, entre outros dispo­níveis em seu amplo portfólio. O crescimento na receita da empresa rondou a casa de 20% ao ano nos últi­mos exercícios. Mesmo com o atual con­texto econômico de atividade mais fraca, a Transpes ainda deve ter uma alta significa­tiva em 2014 – perto de 12%. No ano pas­sado, o faturamento da empresa chegou à casa dos R$ 300 milhões. “Nosso crescimento vem sendo pratica­mente orgânico nos últimos anos”, disse Gonzalez, primogênito do fundador Tarcí­sio Gonzalez, o espanhol vindo da Galícia.

“Sabemos que para darmos um salto mais significativo daqui para frente temos de fazer incorporações.” Além do mercosul, a Transpes avalia negócios no Chile e até na Améri­ca Central, além de não dispensar nenhuma boa possibilidade no mercado interno.

Desde os meados dos anos 1990, quan­do mudou a denominação de Transpe­minas (Transportes Pesados Minas) para Transpes, a empresa vem consolidando a atuação no atendimento à indústria metal­mecânica, siderúrgica, óleo e gás não só no território nacional como também em países que integram o Mercosul. Agora com a possibilidade de aquisições, o ope­rador busca fortalecer ainda mais a marca Transpes, conhecida atualmente em Minas como uma potência logística.

A Transpes expande suas fronteiras apoiada numa governança coorporativa que tem foco na robustez financeira e cres­cimento profissional de seus colaboradores. A jovem gestão dos sucessores aposta em resultados sólidos conquistados a partir de compromissos socioambientais – algo que ainda pode soar distante para a maioria das empresas do setor de transporte rodoviário. “Buscamos incutir em nossos funcioná­rios o conceito de que eles também são donos do negócio”, afirmou o presidente Sandro Gonzalez, 48 anos. “Com isso, tudo o que ele fizer para melhorar a nossa ati­vidade se reverterá a favor dele também.” Após discutir metas com as equipes de tra­balho das diferentes áreas, a direção da Transpes instituiu neste ano um Programa de Participação de Lucros e Resultados, o que vai representar um 14º salário adicional. A empresa tem um quadro de 1,2 mil fun­cionários próprios e 1,3 mil indiretos. Além de Sandro, comandam a Transpes seus ir­mãos Alfonso, diretor de Logística e Infra­estrutura, e Társia, integrante do Conselho Administrativo.

“Temos a preocupação de mudar toda uma concepção relacionada a uma empre­sa de transportes”, afirmou Dervy Gomes Souza, diretor de marketing. “Isso começa com o respeito total ao ser humano, que é peça que faz a diferença em qualquer ativi­dade, mas principalmente, numa atividade dura como a do transporte. Transportar um grande reator requer o mesmo cuidado de uma carga de cristais finíssimos”, teorizou. Na filosofia da Transpes, há uma linha muito bem definida que separa a commodi­ty (caminhão, equipamentos, armazéns) do profissional. “O homem é que faz uma em­presa ser melhor que a outra, garantindo as­sim a perpetuação de uma marca no merca­do”, reforçou o presidente Sandro Gonzalez. O trabalho de valorização profissional começa pelas instalações da sede, em Betim, que a Transporte Moderno teve oportunidade de visitar. Num edifício de área construída de 90 mil metros qua­drados, nada lembra uma transportado­ra tradicional. Com arquitetura moderna, o prédio administrativo recebe iluminação natural durante todo o dia. Numa área anexa, fica o pátio de estacionamento e manutenção da frota, numa integração harmoniosa.

“Procuramos tornar o ambiente o mais agradável possível, com um médico e en­fermeiro à disposição em tempo integral. Também oferecemos cursos de qualificação profissional, espaço para três refeições de qualidade ao dia. Os nossos motoristas têm acompanhamento em tempo integral, onde buscamos interagir até com os familiares, buscando resolver qualquer distúrbio para mantê-lo sempre concentrado na viagem”, afirmou o diretor de marketing. Se o investimento no homem é constan­te, a mesma verdade é aplicada à máqui­na. A Transpes também não descuida da sua estrutura física. por ano, a empresa renova cerca de 20% da sua frota de veí­culos, cuja idade nunca ultrapassa os seis anos de uso. A frota é composta por mil equipamentos próprios e 1,3 mil agrega­dos, entre eles cavalos-mecânicos, carre­tas, empilhadeiras, guindastes, caminhões nunck, pórticos hidráulicos, escoltas e car­ros de apoio. Parte das carretas e equipa­mentos é importada em razão de aplica­ções especializadas.

Na semana da visita a sede da Transpes, acabavam de chegar ao pátio quatro Vol­vos FH 750, os modelos de caminhão mais potentes vendidos no mercado brasileiro. Importados da Suécia ao custo de R$ 1 mi­lhão cada unidade, o FH 750 tem capaci­dade para tracionar cargas de até 250 to­neladas. Os veículos poderão ser utilizados em várias operações, inclusive no transpor­te de equipamentos para a usina de Belo Monte, megaobra avaliada em torno de R$ 25 bilhões em que a Transpes vem tendo participação ativa.  

Ao término de uma das maiores hidrelé­tricas do mundo em plena construção na re­gião amazônica, a Transpes estima que terá realizado nos próximos seis anos cerca de 4.500 viagens entre o Sudeste e o interior do Pará, movimentando cerca de 60 mil to­neladas. Entre fornecedores instalados em São Paulo e o canteiro de obras, há uma rota média de 3,5 mil quilômetros a serem percorridos, às vezes, com auxílio de balsas. Em algumas operações entre o Sudeste e o Norte, um motorista da Transpes pode levar até 50 dias para concluir o transpor­te de um gerador, por exemplo. O traba­lho envolve um longo planejamento para superar obstáculos como pontes e viadu­tos, sendo necessária a participação de órgãos públicos, como a Polícia Rodoviá­ria, para superar trechos de grande movi­mentação rodoviária.

Além da sede em Betim, a Transpes con­ta com uma cobertura de 20 filiais espa­lhadas pelo Brasil, permitindo que dispute grandes obras públicas e privadas em todo o território nacional, além de várias outras aplicações do transporte.

Entre mais de 500 empresas atendidas pela Transpes, a transportadora realiza a movimen­tação de mais de 1,1 milhão de toneladas de carga por ano, percorre mais de 30 milhões de quilômetros a cada exercício, realizando mais de 25 mil operações de embarques.

Como surgiu em Minas Gerais, é natu­ral a participação da Transpes em ativida­des ligadas ao transporte de produtos mi­nerais e siderúrgicos. Durante cinco anos, a empresa é premiada pela Vale como um prestador de serviços sem ocorrência de acidentes, um reconhecimento ao trabalho eficiente do operador. 

Outra atividade em que a empresa está fortemente envolvida é o transporte das pás e torres para a produção de energia eólica. Os caminhões Volvo e Scania, pin­tados em azul e vermelho, as cores insti­tucionais da empresa, transportam estas estruturas para vários parques que estão sendo construídos no país para a transfor­mação dos ventos em energia elétrica.

As linhas de eixo da Transpes podem transportar qualquer estrutura complexa. Em um dos cases relacionados pela trans­portadora, está o transporte de uma loco­motiva da Geoterra entre o porto de Vitó­ria (ES) e Belo Horizonte (MG). O desafio do trabalho foi o de trafegar por estradas federais, apoiada pela Polícia Rodoviária Fe­deral e Polícia Militar, além de órgãos fede­rais e do estado de Minas Gerais.

Conjuntura – Capitalizada e bem es­truturada, a Transpes vê com muita cautela o atual momento político. O presidente da empresa considera o modelo econômico do governo Dilma Rousseff esgotado. Para ele, 2015 deverá ser um ano difícil, já que qualquer que seja o governo eleito terá de fazer mudanças para ajustar a economia. De acordo com o presidente da Transpes, empresas do setor têm de estar aten­tas, evitando endividamento desneces­sário até que a economia seja reativada. “Nós temos confiança na retomada da economia, mas sabemos que ajustes pre­cisam ser feitos. Seja qual for o candidato eleito, ele terá um trabalho difícil pela fren­te”, afirmou Sandro Gonzalez.

Para ele, Minas Gerais sofreu com a falta de obras por incompatibilidade política entre os governos Lula/Dilma e gestão estadual de Minas, dominada nos últimos anos pelo PSDB. “Somos um estado de ligação entre todas as regiões do Brasil. Mesmo com a maior malha ro­doviária federal, temos as estradas em estado ruim, prejudicando a competiti­vidade dos nossos produtos, principalmente, em setores primários, como o si­derúrgico”, disse.

História – Até chegar ao atual estágio, a Transpes ralou bastante. A história do operador mineiro se confunde com a do pioneiro Tarcísio Gonzalez, que aportou no Rio de Janeiro em 1951. Pelos caminhos do destino, acabou no transporte de cargas especiais, inicialmente encarando serviços que caminhoneiros evitavam, como carre­gamento de gasolina em embalagens sim­ples.

Ao mudar-se para Belo Horizonte, o pio­neiro acabou por conhecer ninguém menos que Juscelino Kubitschek. Ao ser eleito Presidente da República, JK reencontrou o espanhol em Brasília, para onde o pioneiro começou transportar máquinas para fazer a terraplenagem da  capital federal.

Desde aquele período, a Transpes soube aproveitar todas as oportunidades. Nos anos 1980, com a crise brasileira e baixo investimento do governo federal na infra­estrutura, a transportadora teve de experi­mentar novos setores além do atendimen­to às grandes empreiteiras. 

A Transpes diversificou, aprendeu e inovou. Chegou inteira aos dias atuais com capital e disposição para encarar no­vos desafios, agora na segunda geração de sucessores que se apoia nos conceitos e visão do pioneiro. Em maio de 2016, a Transpes completará 50 anos. suas bases estão firmes e bem encaminhadas para o futuro.

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